Guarda 2027 e a Rota dos Vinhos da Beira Interior
Falar sobre vinho é remontar a tradições seculares que nos chegam como evidências arqueológicas de costumes e culturas em territórios situados nas mais variadas latitudes. Ao vinho associaram-se, desde os tempos dos romanos, propriedades medicinais que se julgavam facultar maior saúde. Encontramos as referências a este néctar dos deuses nas lendas pagãs, bem como na Bíblia Cristã.
Se toda esta herança cultural está claramente presente na região da Beira Interior – e marca indelevelmente a sua história e património – esta foi a última região portuguesa a usufruir do importante título de região demarcada. Apesar das vinhas seculares e das castas autóctones exclusivas, foi apenas em 1999 que se estabeleceu a delimitação vinícola da Beira Interior, integrando três sub-regiões associadas a Castelo Rodrigo, Pinhel e à Cova da Beira.
Esta demorada demarcação poderia ser mais um sinal das assimetrias do investimento no território português. Mas eu gosto de a ver de outra forma: é a evidência de que, após muitas décadas de menor auto-apreciação, em tempos mais recentes o potencial desta região começou a ser devidamente reconhecido, quer a partir de fora, quer a partir de dentro. Como se, quando outros territórios começaram a esgotar o seu potencial turístico e a disponibilidade para novos investimentos, esta fosse a última pérola por descobrir no território português.
Ao contrário do que se pode imaginar, esta “descoberta” tardia pode ter inúmeras vantagens. Protegida da pressão da voragem selvagem que caracterizou décadas passadas, a região preservou maioritariamente as suas qualidades naturais e patrimoniais. Aprendendo com os erros passados, poderá agora traçar um caminho mais equilibrado. Fazendo uso da democratização do conhecimento científico dos últimos anos, a região pode lançar iniciativas mais estruturadas, mais qualificadas, mais amigas de um futuro sustentável.
Este foi o tipo de trabalho que viemos a descobrir na Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior – e por isso os quisemos ter como parceiros da Candidatura a Capital Europeia da Cultura de 2027. Apraz-nos ter vinhos selecionados aos quais é aposto o selo da Guarda 2027, tal como temos um especial orgulho em servir vinhos da região nos eventos que organizamos. Mas, acima de tudo – como é nossa intenção com qualquer parceiro cultural, mecenático ou institucional da Candidatura – alimentamos a vontade de estabelecer colaborações criativas que tenham expressão e relevância no programa cultural de 2027 e dos anos em volta.
Representando 17 municípios da Beira Interior, a Guarda 2027 considera a produção vitivinícola da região como um património histórico, natural e cultural, caracterizador das especificidades que nos distinguem. Neste sentido, é com prazer que nos associamos à divulgação da nova Rota dos Vinhos da Beira Interior como um projeto cultural que alia a valorização de um produto autóctone à descoberta lúdica do território. E será também com gosto que conceberemos outros programas que reforçarão a dimensão europeia da Candidatura e ajudarão a projetar os valores da região num novo contexto internacional.
Executive Director Guarda 2027, Pedro Gadanho