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ENOTURISMO NA BEIRA INTERIOR: OS SABORES E TRADIÇÕES DA MAIS ALTA REGIÃO VITIVINÍCOLA PORTUGUESA

23 de Setembro de 2020, às 00h00

Num local onde o inverno congela os ossos e o verão queima a pele, a Beira Interior é lar de vinhos com personalidade, gastronomia serrana e tradições que nunca se perdem.

Apesar de existir vinha na Beira Interior há cerca de 2.000 anos, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de Novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. É a região vitivinícola mais alta do país, rodeada de serras - Estrela, Gardunha, Malcata e Marofa - sendo que as vinhas estão plantadas em zonas planálticas ou de encosta, entre os 350 e os 750 metros de altitude. As duras condições climatéricas registadas nas vinhas moldam por completo os vinhos que ali começam a nascer.

A centenas de metros de altitude, dezenas de castas dividem o espaço nas vinhas velhas, onde as videiras antigas contam com mais de 100 anos. Podemos diferenciá-las pela larga estrutura do seu pé, um tronco largo e curvilíneo, com um diâmetro muito superior às outras videiras que se alinham ao longo da vinha.

"Esta deve ter mais de 100 anos e vou ter de a arrancar, com muita pena minha, mas já não dá fruto", explica Germano Santos, enquanto caminha pela vinha, arrancando algumas folhas de forma a permitir que os cachos de uvas recebam a luz do sol. Germano Santos tem uma daquelas profissões que sabemos que, mais ano menos ano, estarão completamente extintas: é classificador de vinha. Sem qualquer esforço, com apenas um olhar sabe exatamente qual é a casta de cada uma das videiras. As diferenças estão nas folhas mais ou menos recortadas, nos pequenos nós dos ramos ou nas brotações.

Na região, o destaque vai para a casta branca Síria, a mais plantada na Beira Interior, mas também a Fonte Cal, Malvasia e Arinto. Nas tintas, a Rufete é a mais predominante, existindo também a Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. O solo agreste onde crescem as vinhas - muitas vezes pontuados por pedra - e o clima austero a que estão sujeitas, distinguem o vinho da região. Grandes diferenças de altitude, relevo, humidade, temperatura, conduzem a diferentes terroirs nos cerca de 16.000ha de vinha da região. Para essa diversidade contribui também o perfil do solo na Beira Interior, que não é homogéneo. Os vinhos refletem o caráter da terra que os viu nascer: brancos, rosés e tintos firmes, sérios, elegantes e longevos.

Notícia original: https://viagens.sapo.pt/viajar/viajar-portugal/artigos/enoturismo-na-beira-interior-os-sabores-e-tradicoes-da-mais-alta-regiao-vitivinicola-portuguesa#&gid=2&pid=35